Propaganda

Depois de defensivos e fertilizantes, a expectativa de falta de crédito se apresenta como o novo desafio do Agro. Não bastasse a crise mundial no fornecimento de pesticidas, intensificada pelos recentes lockdowns na China, e a rápida elevação do preço dos fertilizantes após o início da guerra na Ucrânia, os produtores rurais enfrentam uma outra dor de cabeça: como obter crédito?

Com o aumento da SELIC de 4,25% para 12,75% desde o lançamento do último Plano Safra e a situação fiscal crítica do Brasil, o governo federal tem dificuldade para continuar financiando o Agro.

O problema já ficou visível na última edição. Suspenso em 7 de fevereiro, o Plano Safra 2021/2022 foi retomado somente em 9 de junho após a liberação pelo Ministério da Economia de cerca de R$ 1 bilhão para equalização de novos financiamentos. O montante é suficiente para viabilizar apenas outros R$ 15 bilhões em novos empréstimos, que devem ser contratados até o dia 30 de junho.

Marcos Pontes defende Plano Safra superior a R$ 300 bilhões

Na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Pontes, disse que está negociando com a equipe econômica do governo um Plano Safra 2022/23 de pelo menos R$ 300 bilhões. Segundo ele, o aumento de 19,5% no volume de recursos é necessário, porque, segundo o ministro, todos os preços subiram.

Porém, de acordo com os dados da consultoria Agroconsult, a elevação dos custos de produção da próxima safra foi muito mais acentuada. No sudeste do MT, o produtor de soja deverá desembolsar R$5653 por hectare para a implantação da cultura, alta de expressivos 31%. O grande vilão foi os fertilizantes, que dispararam 131,6% em um ano, indica a consultoria.

No Paraná, a alta chega a 50,6% para o plantio do trigo, totalizando um investimento de R$3859 por hectare plantado. O preço dos fertilizantes novamente se encontra no centro do problema, com elevação de 101% no período.

Na Câmara, Tereza Cristina cobra urgência para Plano Safra 2022/23

A ex-ministra da Agricultura deputada federal Tereza Cristina (PP-MS) cobrou na manhã desta terça-feira urgência para o Plano Safra 2022/23. “A safra tem data para plantar e colher. Não dá para esperar a burocracia e as discussões para que esse plano seja colocado em marcha para os produtores terem previsibilidade do que vão fazer na próxima safra”, disse a deputada durante sessão de votação da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, da qual faz parte. Ela destacou que a safra 2022/23 começa a ser plantada em setembro.

Pequeno crescimento do Plano Safra e incertezas abrem espaço para o crédito privado

Segundo dados do Ministério da Agricultura, nos últimos 5 anos o valor de recursos liberados no Plano Safra cresceu 3,8% ao ano, em média, bem aquém do ritmo de elevação dos custos de produção.

Segundo dados da Agroconsult, no mesmo período os custos de produção da soja, do trigo e do milho safrinha avançaram 16,9%, 19,7% e 22,6%, em média, respectivamente.

Para André Glezer, Co-founder e CEO da Agrolend, instituição financeira especializada no financiamento de produtores rurais, o governo dificilmente acompanhará o crescimento da necessidade de crédito do setor. “A explosão dos juros tornou inviável o custo do Plano Safra para o Governo. O produtor rural tem se conscientizado da situação e buscado alternativas no mercado privado, prova disto, já triplicamos nossa carteira de crédito desde o final do ano passado. A Faria Lima é a nova fronteira do crédito rural”, defende.

O executivo acredita ainda que o crédito rural subsidiado continuará existindo, mas apenas para apoiar pequenos produtores rurais e aqueles que o mercado não tem apetite em operar. Segundo ele, o Governo necessariamente precisará concentrar seus esforços para atender os pequenos e médios produtores rurais, priorizando linhas de financiamento como o Pronamp, que, segundo dados do Ministério da Agricultura, cresceu 16,5%, em média, nos últimos 5 anos, ritmo 4 vezes maior do que o crescimento geral do Plano Safra. “O produtor rural maior precisa adquirir o hábito de buscar o setor privado para cobrir sua necessidade adicional de crédito. Esse movimento já está em curso”.

As revendas de insumos, cooperativas e indústrias do agro acompanham a situação com atenção. Ao que tudo indica, caberá a elas apoiar seus clientes na busca de recursos financeiros de outras fontes para financiar a produção, em um caminho sem volta de aproximação do Agro com o mercado financeiro.