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Dados da Sociedade Brasileira de Hepatologia estimam que de 20% a 30% da população mundial tem a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), conhecida também como esteatose hepática e gordura no fígado. No Brasil, isso representa de 40 a 60 milhões de pessoas portadoras da doença. Segundo o médico e professor Henrique Sérgio Moraes Coelho, hepatologista do Hospital São Lucas Copacabana, se a esteatose hepática não for tratada, cerca de 10% dos casos – aproximadamente 6 milhões de pessoas no país – podem evoluir para uma cirrose e/ou câncer do fígado, com necessidade de transplante do órgão em alguns pacientes”, alerta o médico.

A esteatose hepática se dá pelo excesso de gordura que se acumula no fígado e está associada a alterações metabólicas no organismo, como diabetes tipo 2; colesterol e triglicerídeos altos; obesidade ou sobrepeso; aumento da circunferência abdominal; doenças do coração; sedentarismo; hipertensão arterial; disfunção da tireoide e uso de alguns medicamentos específicos.

“Atualmente, a esteatose hepática é a doença mais prevalente no fígado e é uma repercussão de um estilo de vida ruim da contemporaneidade. Um grande perigo é o fato de ela ser silenciosa e não apresentar sintomas nas fases iniciais e, consequentemente, não ser tratada, com isso, ao longo dos anos, a DHGNA avança para quadros mais graves”, alerta o médico.

O hepatologista explica que 90% das pessoas obesas ou com sobrepeso têm a chamada gordura no fígado. “Se considerarmos que, no Brasil, cerca de 60% da população é obesa ou está com sobrepeso e, por exemplo, nos EUA, esse percentual sobe para 80%, concluímos que o número de portadores de esteatose hepática no mundo e suas possíveis complicações transforma essa patologia em um caso de saúde pública com características de uma pandemia global”, esclarece o prof. Henrique Sérgio.

Diante de um cenário com números tão pessimistas, a boa notícia é que a doença hepática gordurosa não alcoólica tem tratamento e cura. O médico destaca também a importância de incluir exames laboratoriais (lipidograma e hepatograma) e de imagem (ultrassonografia do abdome) no check-up pelo menos bienal.

Segundo o dr. Henrique Sérgio, a mudança no estilo de vida, com práticas simples, possíveis e já conhecidas de todos, precisam ser incluídas no cotidiano: “Ter uma alimentação saudável, de preferência prescrita por um nutricionista, e, dessa forma, manter o peso adequado a seu corpo; praticar regularmente atividades físicas, se necessário com o acompanhamento de um profissional da área e, assim, contribuir para o controle dos fatores de riscos, como o diabetes, a hipertensão e a disfunção da tireoide, e manter as taxas de colesterol e de triglicerídeos dentro dos padrões recomendados. Com esses cuidados, em até um ano, a esteatose hepática regride e o fígado fica saudável novamente”, enfatiza.

Esteatose hepática e pós-Covid-19

O dr. Henrique Sérgio Moraes Coelho comenta que a pandemia de Covid-19 contribuiu para o aumento de casos de esteatose hepática. De acordo com o médico, o isolamento social propiciou o sedentarismo e a frequente ingestão de fast-foods, ocasionando o ganho de peso, além de ter afastado os pacientes dos consultórios e da realização de exames de rotina.

“Hoje, no pós-Covid, cerca de 70% dos casos que atendo são de pessoas com doença hepática gordurosa não alcoólica, uma média de 15 pacientes por semana com a doença. Outro dado importante é que 90% das pessoas que possuem, pelo menos, três dos fatores de risco citados anteriormente também têm esteatose hepática”, finaliza o professor.