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Alguns dos principais especialistas em sono e doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) do país se reuniram na última sexta-feira, dia 6 de maio, a fim de alertar e propor medidas para o diagnóstico e tratamento de distúrbios do sono. Segundo o Dr. Mark Barone, coordenador geral do FórumDCNTs, entidade que sediou o encontro, “a associação entre distúrbios do sono e DCNTs não pode continuar sendo ignorada”. Durante sua apresentação, o Dr. Barone enfatizou que, no passado, essa associação era vista apenas como unidirecional, com a obesidade causando apneia obstrutiva e outras doenças crônicas. Segundo ele, nas últimas décadas se verificou que a associação com distúrbios do sono é muito mais complexa, podendo acontecer com diabetes, hipertensão, entre outras DCNTs e depressão, com conexões que muitas vezes não dependem da presença de obesidade.

De acordo com os dados apresentados, 32,9% da população brasileira apresenta apneia obstrutiva do sono e 27,2% dorme menos de 6 horas por noite. Em relação a pessoas com diabetes, a prevalência de apneia pode chegar de 36% a até 86%, quando associada também à obesidade. Se não tratados, os distúrbios do sono levam a alterações fisiológicas semelhantes ao estresse crônico, podendo causar elevação de pressão arterial, da glicemia, ganho de peso, alterações na regulação do apetite e do humor e, com isso, o desenvolvimento ou agravamento de DCNTs, como a obesidade, a depressão e as doenças cardiovasculares. Enquanto parte desses distúrbios pode ser tratada a partir de mudanças de hábito e higiene do sono, quando não tratados, seus custos para a sociedade podem chegar à ordem das centenas de milhões de dólares.

Durante o evento, o Dr. Luciano Drager, presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS), compartilhou resultados do projeto em curso HERMES, do qual participam 36 centros de sono no país. Entre os aspectos apresentados, chamam a atenção a distribuição desigual desses centros, em número muito maior nas regiões Sul e Sudeste, e a informação de que o tempo de espera para a realização de um exame do sono pode chegar a mais de 30 meses. De acordo com o Dr. Drager, “há um grande gargalo tanto na oferta quanto no tratamento da DCNT mais prevalente no país, a apneia obstrutiva do sono”.

Como estratégia para lidar com esse desafio, a Dra. Marislene Nunes, coordenadora da Atenção Primária do município de Araguari-MG, apresentou um projeto que acabou com a espera por tratamento de apneia obstrutiva no município. Segundo ela, antes não se perguntava sobre o sono das pessoas na Atenção Primária e aqueles que recebiam diagnóstico de apneia esperavam até 12 anos sem tratamento. Ela complementa, “hoje a Atenção Primária em Araguari está muito mais resolutiva, identificando e diagnosticando distúrbios do sono, e dando acesso ao tratamento após 5 a 30 dias do diagnóstico”. Segundo o Prof. Geraldo Lorenzi-Filho, chefe do Laboratório do Sono do InCor-USP, experiências como a de Araguari devem ser replicadas em outros municípios para que se possa avançar efetivamente no diagnóstico e tratamento de distúrbios do sono e, aos poucos, observarmos os reflexos sobre melhor qualidade de vida e controle das DCNTs no Brasil. De acordo com ele, é fundamental que o nível primário de atenção à saúde esteja preparado para um desafio de tamanha prevalência. Ele completou que “existem equipamentos portáteis validados, para se fazer o diagnóstico, assim como aparelhos com ajuste automático para o tratamento da apneia”.

Mais informações sobre o assunto estão disponíveis em www.ForumDCNTs.org