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A guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, deu ênfase à questão da crise de energia que afeta o mundo pós-pandemia, sobretudo a Europa e as nações desenvolvidas. Apesar da dependência do gás russo por parte de algumas nações europeias, o Ocidente impôs sanções econômicas à Rússia, tirando a liberdade de exportação do gás e petróleo do país.

Para Lenardo José Saraiva de Castro, engenheiro formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e especialista em pesquisa e desenvolvimento, o efeito inevitável à medida foi a restrição na oferta de petróleo e aumento do preço do barril, impactando de forma significativa o custo de produção e transporte, alimentando a inflação e levando a crise econômica a níveis sem precedentes.

Para defender suas moedas e combater a inflação, os bancos centrais de diversos países aumentaram suas taxas de juros para fazer frente ao excesso monetário dos estímulos que a pandemia exigiu – o que não vem sendo suficiente, na visão de Castro, uma vez que a inflação continua persistente. “O mecanismo parece neutralizado e ter esbarrado no crescimento extraordinário do preço do petróleo”, avalia.

Crise expõe necessidade de energia verde

“O barril Brent saltou dos US$55.88, em 29 de janeiro de 2021, para US$122.84 em 13 de junho de 2022 – valores diários conforme a Investing.com”, reporta o engenheiro. “Nesse cenário, o mais provável será um inverno frio e caro para o hemisfério Norte esse ano, em um cenário de desaceleração econômica global”, complementa.

“Como fazer frente a essa necessidade de energia?”, questiona Castro. Ele destaca que, na abertura do 5º Fórum Investimentos Brasil 2022, no início de junho, foi citada por autoridades do país a oportunidade de investimento em produção de hidrogênio verde como um instrumento de crescimento da economia do país.

“O Brasil é o país com a maior diversidade de geração de energia limpa do universo, conforme a EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Em 2020, 48.3% da nossa matriz energética já era do tipo energia renovável”, destaca o engenheiro. “No caso da geração de energia elétrica, apenas 17% de nossa matriz depende de fontes não renováveis, onde se incluem os combustíveis fósseis. Esse é um importante contraponto à matriz de geração de energia elétrica mundial que, em 2019, apresentava 73% da geração oriunda de fontes não renováveis”, acrescenta.

Para o especialista, esse potencial de geração de energia diz respeito à possibilidade de exploração do potencial eólico brasileiro. “Em janeiro, o decreto Nº 10.946/2022 dispôs sobre o aproveitamento de recursos naturais para gerar energia elétrica a partir de usinas offshore, o que ampliou o potencial energético”, diz ele. “Somando a esse potencial o da energia solar, o Brasil – e, em particular, o Nordeste – pode se tornar provedor de energia para o mundo”, considera.

Hidrogênio: o combustível do futuro

Segundo Castro, produzir, armazenar e transportar Hidrogênio de forma economicamente viável, sem ofender o meio ambiente, é o desafio da engenharia para tornar o Hidrogênio o combustível do futuro.

“O hidrogênio pode ser extraído pela gaseificação do carvão, ou do gás natural, e da biomassa, mas é na eletrólise da água que o melhor dos mundos acontece”, explica. “O H2, ao ser produzido na eletrólise da água, libera oxigênio na atmosfera e, na outra ponta, para ser melhor transportado como energia líquida, rouba CO2 do meio ambiente na produção de hidrocarbonetos combustíveis ou, ainda, simplesmente liberam água. Como nada é perfeito, essa eletrólise precisa de muita energia em um processo pouco eficiente – a eletrólise da água produz perda de 20% da energia aplicada”, informa.

A energia oriunda de combustíveis fósseis para produzir hidrogênio é muito poluente, pontua o especialista. Para ele, a alternativa mais limpa é o uso de energias renováveis. “Assim, surgem as cores dos Hidrogênios: o Cinza usa energia de combustíveis fósseis para ser gerado, o Azul consome energias de fontes renováveis em sua produção. O Hidrogênio Verde, por sua vez, utiliza apenas energia limpa – sem emissão de carbono – para ser gerado, podendo ser eólica e solar“.

Segundo Castro, com o barateamento da energia eólica e a expansão de usinas do Nordeste do Brasil, o Hidrogênio Verde pode ser produzido com o excesso de energia gerada. “Até o final da próxima década, o Brasil, caso faça seu ‘dever de casa’, pode se tornar o maior exportador de energia do mundo”.

Ele analisa que, ao injetar energia abundante e a preço competitivo, gerada por vento ou sol, das usinas onshore e offshore do Nordeste – será possível ter massa crítica de produção do Hidrogênio Verde capaz desbancar, de longe, o custo do Cinza. “Para isso, o desenvolvimento tecnológico e os marcos regulatórios darão tom da nossa capacidade de se posicionar nesse mercado resolvendo os gargalos de recursos, logísticos e tecnologia que hoje são demandados”, articula.

Para concluir, Castro afirma que, assim como no caso do pré-sal, para o qual a Petrobrás desenvolveu tecnologias e é, hoje, um dos principais players na prospecção da camada de sal, agora surge a oportunidade com o Hidrogênio Verde. “O Brasil tem universidades preparadas e pode ser o país mais competitivo na produção, estocagem e transporte de Hidrogênio Verde”, conclui.

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