Propaganda

A vacinação de adultos, especialmente aqueles com condições crônicas não transmissíveis (CCNTs), tem enfrentado um cenário preocupante no Brasil. A vacina contra a influenza, por exemplo,foi aplicada em apenas 29,45% das pessoas com comorbidades, em 2024. Esse número ressalta a baixa adesão vacinal em um grupo altamente vulnerável, que inclui pessoas com diabetes, cardiopatias e condições respiratórias crônicas.

Entre os desafios que agravam essa situação está a falta de informação. Segundo Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), um dos principais fatores que contribuem para a baixa cobertura vacinal é a falta de conscientização da população geral e dos profissionais de saúde sobre os riscos. A desinformação, amplificada pelas redes sociais, afeta a decisão de vacinação, com cerca de 40% dos não vacinados buscando informações exclusivamente nessas plataformas.

Pessoas com diabetes, em particular, enfrentam riscos aumentados. Estudos apontam que adultos com diabetes têm até seis vezes mais chance de sofrer complicações graves de infecções imunopreveníveis. Lucas Xavier, jovem líder da Federação Internacional de Diabetes (IDF), observa que muitos brasileiros com diabetes tipo 2 desconhecem tanto sua condição quanto a necessidade de imunização, o que compromete sua saúde a longo prazo.

Além disso, a imunossenescência — o envelhecimento natural do sistema imunológico — agrava o cenário para pessoas acima de 50 anos. A incidência de Herpes Zoster, por exemplo, aumenta significativamente nessa faixa etária. Nancy Bellei, professora da UNIFESP, alerta que essa condição pode levar a complicações graves, como acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e infartos, caso não seja prevenido por meio da vacinação.

O acesso à vacinação também permanece limitado em várias regiões do país. Os Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) têm como objetivo atender populações especiais, mas a baixa familiaridade da população com esses centros compromete sua utilização. O PNI tem buscado expandir o acesso, mas questões como desabastecimento de vacinas, como a de varicela, ainda são desafios recorrentes.

Em relação à inclusão da vacina contra Herpes Zoster no calendário nacional, Eder Gatti, do Ministério da Saúde, explica que o foco do PNI está atualmente nas ameaças epidemiológicas mais urgentes, como o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), “responsável pela morte de mais de 100 bebês por ano no Brasil, e nas arboviroses, como dengue, que têm provocado uma grave crise de saúde pública nos últimos anos”. 

Mark Barone, fundador do FórumCCNTs, destaca o risco que a falta de atualização vacinal representa para pessoas com condições crônicas não transmissíveis (CCNTs). “Pessoas com CCNTs, que são o foco do FórumCCNTs, têm risco aumentado caso sejam acometidas por condições imunopreveníveis. Portanto, é absolutamente fundamental estar com as vacinas atualizadas”, afirma. Ele ressalta, ainda, que “dada a baixa cobertura vacinal nessas pessoas, fizemos inclusive uma campanha para tentar conscientizar a população e melhorar essa situação perigosa”. Barone destaca que, assim como a vacina contra o VSR, a vacina contra influenza também reduz doenças cardiovasculares e mortes, especialmente em pessoas com diabetes, hipertensão, outras CCNTs e maiores de 65 anos. 

Diante desse cenário, o esforço para aumentar a cobertura vacinal precisa envolver todos os setores da sociedade, apoio institucional e capacitação dos profissionais de saúde. A ampliação do acesso às vacinas e o combate à desinformação são essenciais para proteger uma população cada vez mais exposta a infecções preveníveis, permitindo um envelhecimento saudável e reduzindo custos sobre o sistema de saúde.