O estresse, seja ele causado por dificuldades profissionais, afetivas, comerciais ou financeiras, tem repercussão no relacionamento entre o indivíduo e o meio ambiente. O organismo está pronto para reagir ao estresse, na dependência de sua intensidade, com maior ou menor impacto. Trata-se da resposta típica ao estresse, que pode variar de fisiológica a patológica, e incluir manifestações orgânicas e psíquicas.
“Manifestações de nervosismo, ansiedade e irritabilidade, acompanhadas de tontura, falta de memória e concentração, podem ser reflexo da resposta ao estresse, assim como sudorese, cefaleia e distúrbios do sono”, explica o Dr. Dan Linetzky Waitzberg, médico gastroenterologista, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e diretor do GANEP Nutrição Humana
Segundo o especialista, o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal modula a resposta ao estresse, que reverbera para o sistema imunológico. Recentemente, a microbiota intestinal também tem sido envolvida neste processo.
“Está estabelecida a importância neurológica do intestino e seu íntimo relacionamento com o sistema nervoso central, assim como com a microbiota intestinal em termos de resposta ao estresse. Esta resposta tem dupla mão de direção, ou seja, mudanças pressentidas pelo sistema nervoso intestinal podem afetar quantitativa e qualitativamente a função da microbiota e vice-versa.”
Mudanças comportamentais e de humor podem implicar em alterações intestinais, de hábitos de vida e de dieta. E tudo isso pode influenciar a composição da microbiota intestinal. O resultado é uma modificação da resposta imunológica e inflamatória. “Essas, por sua vez, podem afetar os níveis de neurotransmissores cerebrais e assim contribuir para alterações de comportamento e humor, criando um ciclo vicioso de difícil ruptura”, ressalta Dr. Waitzberg.
Destaque para os probióticos
Probióticos são microrganismos vivos que, quando consumidos em quantidade adequada, conferem benefícios ao organismo. “Experimentalmente, em animais sob estresse, verificou-se elevação de marcadores inflamatórios e maior concentração de lipopolissacárides (LPS). No entanto, a oferta do probiótico Lactobacillus farciminis melhorou a toxemia (intoxicação provocada pelo acúmulo de substância tóxicas no sangue) induzida pelo LPS e reduziu as taxas de marcadores inflamatórios no hipotálamo.”
Dr. Waitzberg explica que, em situações de estresse, probióticos foram extensamente estudados, experimentalmente e na prática clínica. “Em especial, o probiótico Lactobacillus casei shirota apontou melhora do humor em indivíduos deprimidos e redução dos níveis de ansiedade em pacientes portadores de síndrome da fadiga crônica.”
“Recentemente, em indivíduos sob estresse diário, a ingestão de Lactobacillus acidophilus Rosell 52 junto com Bifidobacterium longum Rosell 175 apontou uma diminuição dos sintomas digestivos induzidos pelo estresse. Em voluntários saudáveis sob estresse crônico de um mês, o consumo da mesma associação de probióticos mostrou, no grupo com probiótico, redução do cortisol livre urinário e da escala de ansiedade”, explica o Dr. Waitzberg.
Evidências recentes apontam que o consumo de probióticos pode melhorar sintomas de desordens do humor, por conta da elevação de serotonina, ao lado da diminuição de níveis de marcadores inflamatórios, o que poderia ter grande impacto entre aqueles que buscam o tratamento antidepressivo e sofrem com os efeitos colaterais destes medicamentos.
Existem mecanismos para compreender as associações observadas entre probióticos e alterações psíquicas. São eles:
1) Exclusão competitiva de patógenos intestinais pelos probióticos;
2) O equilíbrio da barreira intestinal reduz a permeabilidade intestinal e evita a entrada de microrganismos patógenos e antígenos e, assim, reduz a inflamação;
3) Comunicação direta com o sistema nervoso central por meio de fibras sensoriais vagais;
4) Diminuição de mediadores inflamatórios, o que sugere associação entre depressão e níveis elevados de marcadores imunológicos.
“Assim, cada vez mais verifica-se a importância de probióticos como agentes intervenientes, sobre mediadores inflamatórios e de estresse, por meio da influência sobre o eixo microbiota-intestino-cérebro.”
Na análise do especialista, pesquisar essa área do saber é fundamental. “A literatura disponível indica o uso potencial de probióticos na melhora da saúde e da qualidade de vida da população.”