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Enquanto São Paulo enfrenta apagões históricos e o Sul do país contabiliza prejuízos de enchentes devastadoras, Giuliana Morrone observa um padrão que vai muito além das manchetes de primeira página. Para ela, esses eventos são parte de uma teia complexa que conecta decisões corporativas, políticas públicas e impactos socioambientais – temas que passaram a ocupar o centro de sua atuação profissional.

“Agora, me dedico ao essencial, que é emergencial e afeta a sua, a minha e as nossas vidas”, afirma a especialista em ESG, sigla em inglês que se refere às práticas ambientais, sociais e de governança dentro das empresas. 

Transformação, não reinvenção
Após 24 anos de TV Globo, Giuliana usou sua experiência jornalística para desenvolver uma visão crítica sobre sustentabilidade e negócios. Mas prefere não ser chamada para falar de “reinvenção” profissional. “Se tem uma palavra que não gosto é a tal ‘reinvenção'”, pontua. “Eu não mudei de carreira, eu me transformei e essa transformação se deu pelo aprendizado”. 

A mudança gradual começou há mais de 15 anos, enquanto cobria os principais acontecimentos políticos do país. “A função social do jornalismo é nobre. Conto, com orgulho e um certo desalento, que acompanhei de perto todos os grandes escândalos de corrupção no país. Não foram poucos”, relembra.

Durante essa fase, seu interesse por sustentabilidade empresarial foi se intensificando. Com o olhar apurado de repórter, ela buscava ir além dos discursos ensaiados e dos balanços para desvendar o que era realmente significativo nos índices das empresas, uma experiência que moldou seu método de trabalho atual.

Um outro tipo de urgência
A capacidade de investigar e conectar diferentes dimensões de uma mesma história – fundamentais no jornalismo – agora a ajuda a analisar e orientar posições empresariais em sustentabilidade e responsabilidade. Com um MBA em ESG Management pela PUC Rio, Giuliana desenvolveu uma abordagem integrada, que trata o tema de forma holística, em vez de fragmentá-lo em práticas isoladas de governança, sociais e ambientais.

“No jornalismo diário, passei muito tempo dedicada ao imediato: urgente! Em primeira mão! Exclusivo!”, recorda. “Como disse Edgar Morin, quando trocamos o essencial pelo emergencial, nos esquecemos da emergência do essencial”, observa Morrone, em referência ao sociólogo e filósofo francês que é pensador da transdisciplinaridade.

A mudança de foco não significa abandonar a urgência, mas redirecioná-la. Hoje, Giuliana dedica seus dias aos estudos e à orientação de empresas que buscam implementar práticas sustentáveis genuínas. “Não vejo como desenvolvermos sem uma conexão profunda de empresas com propósito, com interesse voltado para a comunidade, para as pessoas, para o ambiente, e tudo isso tem que vir obviamente com lucro”, defende.

Concretizar mudanças
A visão de Giuliana não tem a ver com utopia ou otimismo, mas está conectada às respostas concretas que o mercado tem dado às organizações que investem em um futuro melhor. “Conheço muitas empresas que têm triunfado, com aumento de faturamento, associado com cumprimento de metas ambientais, sociais e de governança corporativa. Sem enganação, mas com foco e dedicação”.

Autora de “Mitos e Verdades sobre o ESG” (Editora Planeta), Morrone rejeita a ideia de que transformações significativas possam acontecer da noite para o dia. “Além de não acreditar no curto prazo, não acredito em atalhos”, afirma. A antiga repórter que corria atrás do furo agora persegue algo mais duradouro. “Se antes, no factual, eu apontava problemas, denúncias, desvios, agora busco um foco positivo, de caminhos e resultados”.