A decisão de reduzir o consumo temporariamente, canalizando a economia gerada para investimentos, tem sido um dos pilares do sistema de consórcios.
É possível exemplificar traçando um paralelo com o romance Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, ao imaginar um náufrago que, sozinho em uma ilha, dedicava boa parte do dia para conseguir pescar, de forma artesanal, três peixes para sua sobrevivência. Esta atividade rotineira se repetia, a cada novo dia, com outros três peixes pescados e consumidos durante a jornada.
Luiz Antonio Barbagallo, economista da ABAC Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios, atenta que “ao decidir pescar apenas dois peixes, o náufrago reduziu o seu consumo diário e, por consequência, também o tempo de pesca”.
Ao sacrificar parte do consumo e com mais horas diárias disponíveis, decidiu investir na confecção de uma rede. Desta forma, obteve um bem de capital que lhe proporcionou a pesca em maior quantidade, ou seja, ter melhor resultado com mais produtividade e economia de tempo.
“Com as sobras de horas”, conclui Barbagallo, “pôde empregá-las no desenvolvimento de outros utensílios, em um círculo virtuoso que o fez progredir e melhorar suas condições de sobrevivência na ilha”, complementa.
O mesmo cenário ocorre com o consumidor que decide participar de um grupo de consórcio para aquisição de imóvel, por exemplo. “Administrando suas necessidades do dia a dia com moderação por um período”, aponta Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da ABAC, “os recursos economizados convergiriam para um autofinanciamento e os frutos de seu investimento seriam colhidos em médio e longo prazos”.
Após a contemplação, a volta desse investimento econômico viria por meio do recebimento de alugueis, no caso de locação do imóvel, ou em valores acumulados para custeio de aluguel que o consorciado deixaria de pagar por passar a ser, agora, proprietário.
Haveria também melhoria na qualidade de vida e na segurança, pessoal ou familiar, pois concentraria sua atenção em outros aspectos importantes do dia a dia, que lhe permitiria progredir ainda mais.
“Isto significa que, além da mensuração do retorno financeiro do investimento, há outros tipos de benefícios que não são computados monetariamente de imediato, pois só serão sentidos ao longo do tempo”, acrescenta o economista.
Da ficção para a realidade
O representante comercial de automação de meios de pagamento e cobranças, William Herman, 47 anos, casado e com filhos, entende que o fator principal para gerir as finanças pessoais é a disciplina e a organização financeira.
Ao aderir a um grupo de consórcio de imóveis, visando realizar o sonho da casa própria, considerou, além da idoneidade da administradora e da credibilidade do Sistema, as orientações de uma consultora para finanças pessoais. Ao lhe explicar o funcionamento da modalidade, ela argumentou a importância de priorizar no orçamento do mês, as despesas obrigatórias, rever as supérfluas e verificar os valores disponíveis para investir.
Herman esclareceu que a partir da reorganização financeira, desenvolveu um planejamento para adquirir oito cotas de consórcio de imóveis, cujo total é o crédito necessário para construção da casa. Adequando os compromissos mensais, previstos para pagamentos em dia, deverá concretizar o objetivo patrimonial em 2025.
Traçando um paralelo com a história de Robinson Crusoe, Herman, depois de fazer os ajustes orçamentários, bem como de ter sido contemplado por sorteio em uma das cotas, deu início às obras do imóvel na cidade de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, onde reside.
Com apoio da consultora de vendas da administradora, está programando ofertas de lances para cada cota não contemplada, tentando ser o vencedor. A meta é investir gradualmente os futuros créditos liberados na continuidade da construção, cuja finalização está projetada para março do próximo ano.
Ao valorizar as características dos consórcios, Herman recomendou que “cada um, independente da atividade profissional, pode realizar seus objetivos, dando o primeiro passo e observando os compromissos”.
Demonstrando satisfação por seu investimento via consórcio, Herman, recentemente, aderiu a outro grupo para compra de veículo leve, pensando na futura troca de seu carro.
Outras oportunidades
Em mais um exemplo, vale acrescentar os investimentos em consórcio de serviços, quando da contratação de cursos que vão desde uma graduação em nível superior até os de aperfeiçoamento no país ou no exterior.
Neste caso, detalha Barbagallo, “ao abdicar momentaneamente do consumo objetivando o aprimoramento profissional, o consorciado estaria investindo em um futuro mais promissor, com ganhos superiores e consequente mudança de padrão de vida”.
Consumir ou investir para crescer são temas relevantes na economia. No exemplo, Barbagallo lembra que, ao analisar esses temas em nível macroeconômico, há duas linhas de pensamento: “consumo, é importante sim, porém crescer via investimentos é economicamente sustentável e duradouro”.
A importância da essência da educação financeira está nas escolhas mais assertivas que visem melhorar as condições das pessoas. “Tal como a história do pescador que mudou sua forma de fazer as coisas, alcançando maior produtividade e qualidade de vida, vale a pena reduzir temporariamente no consumo, buscando variar a maneira como as coisas são feitas repetidamente” sintetiza o economista. “Assim, para mudar a história de cada um só depende de dar o primeiro passo”, afirma Barbagallo.